Mas afinal, qual é a
diferença entre ser Oceanólogo e Oceanógrafo? Aparentemente nenhuma, mas...
Eu sou Oceanóloga, essa é minha identidade - quem eu sou e de onde eu venho.
Eu sou Oceanóloga, essa é minha identidade - quem eu sou e de onde eu venho.
Como uma boa filha da
FURG, não gosto de ser chamada de Oceanógrafa, eu sou Oceanóloga, formada não
apenas por uma universidade, mas também pelas intempéries do vento sul.
Oceanólogos são um pouco gaúchos, mesmos os de que lá não são. Oceanólogos são
também riograndinos, são papareia - mesmo negando veementemente que de lá são! Mas acima de tudo, oceanólogos são orgulhosamente, Cassineiros!
Para ser Oceanólogo é
preciso se formar em dois lugares, na FURG e no Cassino. Na FURG aprendemos
cálculo, álgebra, estatística, física, química, geologia, biologia e a multiplicidade de suas disciplinas derivadas. No Cassino
a gente aprende sobre a vida. Mas na FURG a gente também aprende como viver, já o Cassino... Bem, o Cassino nos "obriga" a estudar.
Somos formados por
estas duas exigentes escolas. Somos moldados não a ferro e fogo, mas sim, pelas
intempéries do vento sul. O fogo modela mais facilmente, pois transforma tudo
em um líquido viscoso e coloca a matéria bruta no molde. Mas o vento e o frio esculpem direto da massa
bruta, lasca por lasca. Mas, quer saber? É daí que nos constituímos, mesmo às vezes sendo tão dolorido e
sofrido, pois a essência está nessa massa bruta que não é derretida e moldada, mas sim
modelada. Isso nos compõe e nos dá identidade, que é única!
E por causa disso tudo...
É tão gostoso sentir...
Saudade da FURG e do Cassinão!
Saudade dos amigos que por aquelas
bandas (com)viveram e que se espalharam por este mundão de meu, seu, nosso
"Deus"
Saudade
"incompreensível" das intempéries do vento sul, e da beleza das
frentes frias.
Saudade das lindas tempestades
Saudade daquela praia sem fim
Saudade da bruma fria que transforma
o Cassino e o mar no céu
Saudade do barulho do mar
Saudade do silêncio do inverno
Saudade da maravilhosa avenida e suas
árvores frondosas
Saudade do chimarrão
Saudade do tri, do Bah, do Tchê, do
bem capaz, do "deveserrrr"
Saudade de ir ao Guanabara e pedir
“cacetinho”, guizado, "berga" e chuleta
Saudade da cerveja Polar
Saudade dos domingos de GreNal
Saudade de cantar “Sirvam nossas
façanhas deee modelo a toda teeeerra!”
Saudade do “churras”
Saudade da proximidade com o Uruguay
Você não encontrará um Oceanólogo
neste mundo que não declarará apaixonadamente o seu o amor por este lugar e da
saudade que sente das coisas que por lá viveu.
E olha que a maioria
destes Oceanólogos viveu uma FURG e um Cassino de outra época, de
outros tempos, sem estrutura. Foi uma época em que no Cassino só
"existiam" os Oceanólogos e um bando de malucos "de"
inverno.
Longe de casa, no fim do mundo,
chuva, frio, casas mais frias ainda, nada pra fazer. Um coquetel que poderia
levar qualquer ser humano a loucura, ou a renegar este lugar, mas
por incrível que possa parecer este mix de desconforto "moldou/
molda”, “formou/forma”, a seu modo, cada um que por lá "viveu/vive".
Creio que Oceanólogos, por mais
diferente que seja seu grupinho, claro sempre tem os subgrupos num grupo de sei
lá quantas turmas, mas mesmo com grupos, Oceanólogo tem uma turma só, a nossa
turma! A turma da Oceanologia! Que embora diferentes – graças às maravilhosas
forças do universo, na essência e alma são muito parecidos, afinal de contas, quem escolhe fazer Oceano na FURG vindo lá de algum lugar bem longe e vai morar no Cassino, para passar frio? Quem escolhe um curso que até pouco tempo
nem profissão era? Quem escolhe morar num lugar que ninguém gosta de morar de
tão inóspito?
Quem?
Não é para qualquer um não, meu irmão.
Lá éramos/somos os apelidos, lá não há/havia sobrenome, lá há gente, gente que
por morar num lugar que não havia/há muito que fazer, se dedicava/dedica a
conhecer gente, se dedicava/dedica a tentar ser mais gente, se dedicava/dedica
a exercitar a arte de ser humano.
Acredito que por isso, os Oceanólogos
forjados nas intempéries do vento sul, quando vão embora sintam tanta falta
desses lugarzinhos, que eram a nossa bolha que nos protegia do "mundo lá
de fora". A gente tinha tempo pra nos dedicar uns aos outros, pra curtir
uma vida onde os valores eram mais baseados no ser...
Dá saudade, sim, dá saudade quando no
mundo aqui de fora a gente percebe que voltou a ter sobrenome e não apelido.
Em um lugar que a gente enfrenta o transito até o trabalho, tem conforto, tem dinheiro, tem
família, mas...
Mas sempre existirá em nossos
corações e em nossas lembranças aquele lugar especial.
Ao lembrarmos tudo
isso certamente baterá aquela melancolia da saudade, mas tenho certeza que, também, rolará aquela felicidade! E um doce sorriso sempre brotará de nossos lábios, porque sempre
ao relembramos desse tempo virá a certeza de que tivemos o privilégio de (com)viver
naquele lugar, onde deixamos de ser adolescentes e passamos pra vida adulta.
Lembraremos do privilégio que tivemos
de conviver e compartilhar nossas histórias e nossas vidas neste lugar
inóspito e magnífico!!!!
Não, eu não sou Oceanógrafa, sou
Oceanóloga! E hoje, como todos os outros dias do ano, é o meu dia!
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Foto: Geraldo Medeiros Lima |