domingo, junho 08, 2014

Não, eu não sou Oceanógrafa, sou Oceanóloga!

Mas afinal, qual é a diferença entre ser Oceanólogo e Oceanógrafo? Aparentemente nenhuma, mas...
Eu sou Oceanóloga, essa é minha identidade - quem eu sou e de onde eu venho. 



Como uma boa filha da FURG, não gosto de ser chamada de Oceanógrafa, eu sou Oceanóloga, formada não apenas por uma universidade, mas também pelas intempéries do vento sul. Oceanólogos são um pouco gaúchos, mesmos os de que lá não são. Oceanólogos são também riograndinos, são papareia - mesmo negando veementemente que de lá são! Mas acima de tudo, oceanólogos são orgulhosamente, Cassineiros! 

Para ser Oceanólogo é preciso se formar em dois lugares, na FURG e no Cassino. Na FURG aprendemos cálculo, álgebra, estatística, física, química, geologia, biologia e a multiplicidade de suas disciplinas derivadas. No Cassino a gente aprende sobre a vida. Mas na FURG a gente também aprende como viver, já o Cassino... Bem, o Cassino nos "obriga" a estudar. 

Somos formados por estas duas exigentes escolas. Somos moldados não a ferro e fogo, mas sim, pelas intempéries do vento sul. O fogo modela mais facilmente, pois transforma tudo em um líquido viscoso e coloca a matéria bruta no molde. Mas o vento e o frio esculpem direto da massa bruta, lasca por lasca. Mas, quer saber? É daí que nos constituímos, mesmo às vezes sendo tão dolorido e sofrido, pois a essência está nessa massa bruta que não é derretida e moldada, mas sim modelada. Isso nos compõe e nos dá identidade, que é única! 

E por causa disso tudo... 

É tão gostoso sentir...

Saudade da FURG e do Cassinão! 

Saudade dos amigos que por aquelas bandas (com)viveram e que se espalharam por este mundão de meu, seu, nosso "Deus"

Saudade  "incompreensível" das intempéries do vento sul, e da beleza das frentes frias.

Saudade das lindas tempestades

Saudade daquela praia sem fim

Saudade da bruma fria que transforma o Cassino e o mar no céu

Saudade do barulho do mar

Saudade do silêncio do inverno 

Saudade da maravilhosa avenida e suas árvores frondosas

Saudade do chimarrão 

Saudade do tri, do Bah, do Tchê, do bem capaz, do "deveserrrr" 

Saudade de ir ao Guanabara e pedir “cacetinho”, guizado, "berga" e chuleta 

Saudade da cerveja Polar

Saudade dos domingos de GreNal

Saudade de cantar “Sirvam nossas façanhas deee modelo a toda teeeerra!”

Saudade do “churras”

Saudade da proximidade com o Uruguay

Você não encontrará um Oceanólogo neste mundo que não declarará apaixonadamente o seu o amor por este lugar e da saudade que sente das coisas que por lá viveu.

E olha que a maioria destes Oceanólogos viveu uma FURG e um Cassino de outra época, de outros tempos, sem estrutura. Foi uma época em que no Cassino só "existiam" os Oceanólogos e um bando de malucos "de" inverno. 

Longe de casa, no fim do mundo, chuva, frio, casas mais frias ainda, nada pra fazer. Um coquetel que poderia levar qualquer ser humano a loucura, ou a renegar este lugar, mas por incrível que possa parecer este mix de desconforto "moldou/ molda”, “formou/forma”, a seu modo, cada um que por lá "viveu/vive".

Creio que Oceanólogos, por mais diferente que seja seu grupinho, claro sempre tem os subgrupos num grupo de sei lá quantas turmas, mas mesmo com grupos, Oceanólogo tem uma turma só, a nossa turma! A turma da Oceanologia! Que embora diferentes – graças às maravilhosas forças do universo, na essência e alma são muito parecidos, afinal de contas, quem escolhe fazer Oceano na FURG vindo lá de algum lugar bem longe e vai morar no Cassino, para passar frio? Quem escolhe um curso que até pouco tempo nem profissão era? Quem escolhe morar num lugar que ninguém gosta de morar de tão inóspito?

Quem?

Não é para qualquer um não, meu irmão. Lá éramos/somos os apelidos, lá não há/havia sobrenome, lá há gente, gente que por morar num lugar que não havia/há muito que fazer, se dedicava/dedica a conhecer gente, se dedicava/dedica a tentar ser mais gente, se dedicava/dedica a exercitar a arte de ser humano.

Acredito que por isso, os Oceanólogos forjados nas intempéries do vento sul, quando vão embora sintam tanta falta desses lugarzinhos, que eram a nossa bolha que nos protegia do "mundo lá de fora". A gente tinha tempo pra nos dedicar uns aos outros, pra curtir uma vida onde os valores eram mais baseados no ser...

Dá saudade, sim, dá saudade quando no mundo aqui de fora a gente percebe que voltou a ter sobrenome e não apelido. Em um lugar que a gente enfrenta o transito até o trabalho, tem conforto, tem dinheiro, tem família, mas...

Mas sempre existirá em nossos corações e em nossas lembranças aquele lugar especial.

Ao lembrarmos tudo isso certamente baterá aquela melancolia da saudade, mas tenho certeza que, também, rolará aquela felicidade! E um doce sorriso sempre brotará de nossos lábios, porque sempre ao relembramos desse tempo virá a certeza de que tivemos o privilégio de (com)viver naquele lugar, onde deixamos de ser adolescentes e passamos pra vida adulta.

Lembraremos do privilégio que tivemos de conviver e compartilhar nossas histórias e nossas vidas neste lugar inóspito e magnífico!!!!

Não, eu não sou Oceanógrafa, sou Oceanóloga! E hoje, como todos os outros dias do ano, é o meu dia!

Foto: Geraldo Medeiros Lima






13 comentários:

Anônimo disse...

Massa Bel!! A melancolia bate forte né? hehe. Mas vamos sempre nos encontrar por aí, os interesses de quem passou pelo cassinao nao mudam tao rapido. Karl

Anônimo disse...

Ótimo texto, Bel! Transmitiu exatamente o que nós sentimos: orgulho de sermos cassineiros, oceanólogos!
Esse sentimento nenhum oceanógrafo saberá.

Parabéns pra nós! o/

Rodrigo "Paulista"

Unknown disse...

Excelente texto Bel. Resumiu, e muito bem, o sentimento de todos nos. Um abraco. Michel Gandra

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Parabéns Bel pela ótima redação. Como Papareia legítimo, me orgulho de ter convivido com a massa de estudantes de todo o mundo durante meu período de FURG. O curso de oceano deve à pessoas como vc ser considerado referência internacional. Beijos.

Paulo F. Garreta Harkot disse...

Parabéns, Bel, pela ótima descrição do sentimento que une, e constitui o amálgama, de todos aqueles que tiveram a oportunidade de viver o Cassino, principalmente no inverno, nos verões e primaveras das suas vidas.
Esse sentimento, decorrente de tal vivência, precisa ainda ser melhor explorado e explicado.
Não costumo ressaltar que sou oceanólogo para não causar ainda mais problemas junto aos oceanógrafos de outros locais já que não considero proveitoso para o fortalecimento da nossa profissão.
Mas, e considerando a essência e os fatos motivadores que "moldaram a massa bruta" até nos transformar no que nos tornamos, esse período aí vivido tem um papel diferencial.
Vivi nessa terra entre 79 e 88 e, ao ler suas linhas, transportei-me novamente para aqueles instigantes e importantes momentos.
Sugiro que seu texto sirva de estímulo e referência para que possamos resgatar e valorizar esse sentimento tão bem descrito por ti.
Forte abraço e até qualquer hora!

Anônimo disse...

Baita texto. Melancólico como os dias de frio. Alegre como as festas e os moradores. Doído pela saudade. Me emocionastes. Como moro em Pelotas e um dos meus filhos mora no Cassino quando vou visitá-lo relembro meus anos de Furg e Cassino. Obrigado por contar de uma maneira tão bonita um pedaço da minha história. Abraços Doralino

Unknown disse...

Sendo Cassineira e papareia, adorei o teu texto conheci alguns oceanólogos, vivi os anos 80 no Cassino, vôlei na pracinha,festas com salsa...muito bom...dá nostalgia ao lembrar!!!!Parabéns para todos os oceanólogos que passaram pela minha terrinha.!!!!... .abço Marcia Helena Curitiba.

Bi Mello disse...

QUE TEXTO MUUUITO LEGAL!
VALEU!

Renato Torigoi disse...

Bel, sinto uma enorme alegria de ter SENTIDO cada palavra sua. Alegria e orgulho.
Não sabia que o texto era seu, mas te vi antes de chegar ao final. Saiba que vocês sempre estão presentes em quem sou, a cada passo que dou.
Saudades enormes, saudades das sensações, com lembranças tão vivas que tem cheiro e vento...

Unknown disse...

Ei Belezinha.
Obrigada por cada lembrança, mas Tem também os jogos de futebol, as OCEANIADAS, que o desafio era quem ia menos no hospital, o surf com os botos, nadar com as baleias, que era para poucos loucos,comer marisco com areia e peixe rei nos períodos de entrebolsas, a solidariedade em dividir a estufa, cobertor, meias, o conhaque, uísque, a cachaça e o álcool, o milagroso álcool essencial para o banho semanal.

Mas o principal era a alegria de se encontrar na família de oceanologos, pois todos dias descobrimos alguém mais sonhador, mais destemido, mas gênio, mais apaixonado e com certeza MAIS LOUCO.

Anônimo disse...

Mto legal o texto, meus parabens!
Mesmo sendo Oceanografo, mas com a base formada por Oceanologos...rsrs
So quem fez Oceano sabe como e regida a nossa turma.
Abços a todos Ocs, independente da terminologia.

Marge Oppliger disse...

Me senti totalmente identificada com teu texto. Ainda q eu tenha morado no Bolacha!